Pierre Verger, o parisiense que virou babalaô

26/10/2013 10:37

Em 1993, eu tinha 26 anos e consegui, não recordo como, uma entrevista com o grande fotógrafo e etnólogo francês, radicado na Bahia, Pierre Verger (1902-1996). Faz quase 20 anos já, e o que ficou na minha memória foi que tive muita vergonha de estar diante daquele sábio e saber tão pouco… Senti que precisava ainda de muita leitura para poder entabular uma conversa com alguém tão acima de mim. Lembro ainda da simplicidade do quartinho de Verger, sua cama com um colchão fininho – um catre, para falar a verdade. Também lembro que usava pareô, modelo de saia originário do Taiti que se prende com um nó. Achei o máximo e de fato bem refrescante para um homem usar na tropical Salvador. Na entrevista, Verger fala da vida e de sua relação com o candomblé, com a África e com a Bahia. Espero que vocês curtam. A propósito, no dia 4 de novembro completaram-se 110 anos de seu nascimento.

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Pierre Verger, uma lenda viva da fotografia, ninguém acredita, mora numa casa simples em um bairro de classe média baixa de Salvador, cidade que adotou há 47 anos. Mundialmente conhecido, aos 90 anos, também estudioso da África e doutor em Ciências Africanas pela Universidade de Sorbonne embora tenha abandonado a escola aos 17 anos, vive modestamente das bolsas que recebe para fazer suas pesquisas. “Ter dinheiro é uma desgraça”, diz.

Nascido Pierre Edouard Leopold Verger no dia 4 de novembro de 1902, em Paris, o fotógrafo perdeu a família inteira quase ao mesmo tempo quando tinha 30 anos. Com uma mochila nas costas e uma câmera a tiracolo, partiu com destino às ilhas do Pacífico e de lá para os Estados Unidos, Japão, Filipinas, China, Sudão, Todo, Benim, Nigéria, parte do Saara, Antilhas, México, Guatemala, Equador, Peru, Bolívia, argentina e Brasil. Retornando à França, trabalhou no laboratório do atual Musée de l’Homme e foi correspondente de guerra na China para a revista Life.

Na madrugada de 5 de agosto de 1946 desembarcou na Bahia de navio, para ficar alguns meses, atraído pela leitura de um livro de Jorge Amado. Contratado pela revista O Cruzeiro, fez várias reportagens no Nordeste, com textos de Odorico Tavares. O branco francês se encantou com as “coisas de negro”: as festas populares, a música, as danças e o candomblé de onde vem o codinome Fatumbi –o renascido.